Quando os artistas entraram em cena, a emoção tomou conta da plateia que lotou o Teatro Iguatemi Campinas nas duas noites de apresentação do espetáculo musical Os Saltimbancos. A iniciativa, que integra o programa FEAC Arte e Cultura, desenvolvido pelo Departamento de Assistência Social (DAS) da Fundação, reuniu música, dança e teatro com diálogos falados e cantados em uma apresentação cênica encantada e divertida.
Com o objetivo de proporcionar uma vivência artística coletiva e inclusiva, fortalecer vínculos familiares, comunitários e intergeracionais e elevar a autoestima dos participantes, o espetáculo reuniu 136 crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência atendidos por Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de Campinas/SP. No palco, eles dominaram as artes cênicas e contaram a história de quatros bichos que decidem juntos mudar o rumo de suas vidas, lutando pela liberdade.
O elenco, formado por atendidos de oito OSCs parceiras da FEAC – Projeto Gente Nova (Progen); APAE Campinas; APASCAMP; Fundação Síndrome de Down; Instituto Semear; Associação de Assistência Social São João Vianney; Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa; e Casa Maria de Nazaré (Unidade I – Casa dos Anjos) – deu um show de talento nas apresentações realizadas nos dias 12 e 13 de dezembro.
Utilizando a arte como instrumento de inclusão social, o espetáculo foi realizado a partir de uma atuação colaborativa entre as instituições, visando a oportunidade de interação entre os participantes. “A escolha de Os Saltimbancos foi decisiva para que todos pudessem vivenciar valores como o respeito e comprometimento. A arte, além de ser a única forma de expressão onde todos são iguais, ainda é essencial para o desenvolvimento pessoal e social”, falou a assessora técnica do DAS, Sílnia Prado.
Para a diretora Daniela Fisher, que durante todo o ano, em conjunto com os educadores das instituições, preparou os ‘artistas’, o espetáculo além da arte em si ainda promoveu a convivência, o compromisso e o pertencimento. “Foi um período de muita dedicação. Integramos crianças, jovens, idosos e pessoas com deficiência e formamos um grupo unido. A arte desperta a vontade de expressão, de construção de identidade e também é capaz de transformar e agregar novos valores. Estou muito feliz com o resultado que alcançamos. Foi emocionante!”, frisou.
Teatro e inclusão
Do mesmo jeito que a bicharada do espetáculo Os Saltimbancos se misturou e se uniu, os artistas da peça também formaram laços de amizade. Idosos, crianças e jovens esqueceram suas diferenças e formaram uma família pronta para fazer o melhor para plateia.
“É muito emocionante. Ensaiei muito, foi muito difícil, mas o resultado tá aí. Este ano foi mais complicado porque tivemos que memorizar os textos, cantar, dançar e interagir com os outros. Mas acabamos aprendendo e um sempre apoiou o outro. Nós conseguimos!”, exclamou emocionada a ‘gata’ Ana Ricardo, de 15 anos, da instituição Semear.
Os meninos da instituição São João Vianney, João Vitor da Silva, Cauã Barbosa dos Santos e Pedro Henrique Lázaro, que representaram os jumentos, não seguraram a emoção. “Nunca imaginei que estaria aqui e iria me apresentar para tanta gente. Foi difícil, mas a gente se ajudou e aprendeu. É muita emoção”, contaram.
As idosas do Progen também elogiaram a iniciativa. “Não podia imaginar que aos 71 anos eu iria subir num palco e me apresentar para tantas pessoas. Nesse período todo formamos uma família, as crianças são ótimas e nos respeitaram e tiveram muita paciência. A autoestima foi lá pra cima”, garantiu dona Lau Sanches. “Houve muito incentivo para que a gente participasse e estamos muito felizes”, completou dona Maximina Domingues.
Elizabete Fedoci, coordenadora da APAE Campinas, falou sobre o desafio de participar do espetáculo. “As crianças e jovens aceitaram o desafio e sem dúvida essa será uma experiência que eles irão levar para o resto da vida. Não foi apenas aprender questões técnicas de uma peça teatral. Foi trabalhar a socialização, a comunicação, a cultura e o desenvolvimento do potencial de cada um. Foi um ganho em todos os aspectos”, pontuou.
Para a coordenadora da APASCAMP, Juliana Bertelli, o processo todo foi incrível. “Quando fomos convidados nos perguntamos se daríamos conta do desafio, mas aceitamos. No princípio ficamos com medo porque as crianças têm uma dificuldade com a fala e isso também causa problemas de socialização, mas aos poucos as barreiras foram se quebrando e houve a inclusão. Esse projeto foi maravilhoso, muito importante mesmo”, ressaltou.
A bicharada
O texto do musical, inspirado na obra literária “Os músicos de Bremen”, criada pelos lendários irmãos Grimm, trata da união de um grupo de animais contra a exploração realizada por seus patrões. Cada bicho protagonista expressa sua angústia por meio do canto e decidem juntos mudar o rumo de suas vidas, lutando pela liberdade.
No musical, o jumento que não aguenta mais carregar tanto peso sem recompensa alguma, um cachorro que está muito velho para guardar a casa, uma galinha que não consegue mais botar ovos e uma gata que está cansada de servir como companhia de luxo de sua patroa. Eles se juntam e partem para a cidade em busca do sonho de se tornarem artistas.